O diabo existe? Ele é realmente mau, ou essa imagem foi-lhe dado só pelos cristãos?Certos povos antigos viam no diabo o deus da fertilidade.No entanto o seu culto transformou-se em coisas perigosas, condenadas pelos inquisidores.O próprio chifre, que era considerado símbolo da potência terrestre e do brilho espiritual (Moisés e Amon possuem chifres em algumas representações) tornou-se símbolo de malignidade.
Satã não é, necessariamente, no Antigo Testamento, o espírito do mal, mas o intermediário, pelo sofrimento e pelas sanções, entre Deus e o homem. O termo designa o anjo decaído, inimigo do homem, como lemos na Sabedoria: «É pelo diabo que a morte entrou no mundo, irão experimentá-la os que são do partido do demónio» (Sabedoria,II,24;Provérbios 2,22 traduções Ferreira de Almeida).
»»Três espécies de espíritos do mal««
A Bíblia amaldiçoa os demónios, os diabos e o seu chefe em inúmeros capítulos. A exegese tentou classificá-los de forma que podem ser resumidos assim:
1)Satã, propriamente dito, Satã-Lucífer.
2)Os deuses e deusas dos povos primitivos que, tornaram-se demónios: Bal, Moloche, Astartê, Belzebu. São eles que a Inquisição vai perseguir e que os artistas da Idade Média representam como medonhos ou grotescos.
3)Os demónios «naturais», que atormentaram e perseguem os pobres humanos, envia-lhes pesadelos, obsessões e doenças. Aqui se encontrariam os elementos de uma psicanálise embrionária. Jung os descrevia, alguns séculos depois, como «sombras» da personalidade.
»»O mito de Lúcifer««
O Mito luciferiano da queda dos anjos aparece apenas no mais famoso dos apócrifos do Antigo Testamento: o Livro de Enoch. Essa visão grandiosa designa entre os anjos, os guardiões "que nunca dormem e que guardam o glorioso trono de Deus". Mas Azazel, deixaram-se seduzir pela beleza das duzentas desses guardiões, sob as ordens de filhas dos homens. Desceram ao cimo do Monte Hermon, uniram-se as mulheres, procriando gigantes que oprimiram os humanos até se devorarem uns aos outros. Os anjos culpados cometeram o pecado de revelar às suas amantes os segredos do céu e de mostrar-lhes todos os pecados e toda a injustiça. O Eterno ordena a Rafael, o arcanjo fiel, que atire Azazel para uma caverna. Depois Rafael recebe a missão de voltar para o lado da verdade, a revelação mágico-diabólica feita aos homens por Azazel. Assim, para reparar o mal causado à humanidade pelos ensinamentos da magia negra e da feitiçaria, ensina os homens a utilizarem os conhecimentos "proibidos" para chegar à verdadeira luz. Nos manuscritos descobertos em Qumrãn, às margens do Mar Morto, expressa-se a crença no anjo, ou príncipe das trevas, em oposição ao anjo da verdade. Na tradução do Prof. Dupont-Sommer da Regra esseniana encontramos: "É por causa do anjo das trevas que se enganam todos os filhos da justiça, todas as suas faltas são efeito do seu império, de acordo com os mistérios de Deus, até ao termo fixado por ele..."Quanto a Lúcifer só aparece bem mais tarde, nos textos posteriores à Diáspora. Provavelmente ele é o reflexo de infiltrações madeístas ou neoplatônicas. E só bem mais tarde se estabelece a diferença (quase oposição) entre Lúcifer, anjo decaído, mas sempre nobre; e o vulgar, grosseiro e grotesco Satã; um, tentando o homem pelo orgulho e pelo erro heresiarca; o outro, pela luxúria e pela gula.Voltemos a Lúcifer: Isaías atribui-lhe esta apóstrofe soberba: "Eu escalarei as nuvens, serei semelhante ao Eterno!" Ezequiel caracteriza-o assim: "O teu coração encheu-se de soberba e tu falaste:`Eu sou Deus e estou sentado no trono de Deus´". E é ele, o portador da luz tenebrosa, que foi julgado digno de tentar Jesus por três vezes, no Monte da Quaresma, não muito longe de Jericó. Entra assim no "Novo Testamento" e Pedro adverte-nos: "Nosso adversário, o diabo, como um leão rugindo, está a espreita, procurando o que devorar. Resisti-lhe, firmes na fé..."Depois de séculos, a teologia católica esforça-se para decifrar o enigma desse "leão rugindo". Diante de um mistério tão obscuro e complexo, várias hipóteses se defrontam, mas é verdade que existem certas "linhas de força", sobre as quais os doutores estão unanimamente de acordo. Vamos tentar decifrá-las...
»»Um anjo decaído, mas um anjo««
Em primeiro lugar, para a teologia, o diabo existe, não é um fantasma. Assim, a tentação tripla de Cristo foi-lhe proposta, não pelo seu subconsciente, mas por um ser vivo, por "alguém".Mas, sempre de acordo com a teologia, seria caír nas malhas do diabo vê-lo como um "anti-Deus" em oposição ao Deus verdadeiro. Não há absolutamente dois inimigos face a face, guerreando sem perdão, mas iguais através dos tempos. Como observa Henri Marrou, professor da Sorbonne: "Nossos contemporâneos tenderiam perigosamente para o dualismo puro e simples: haveria Deus de um lado e Satã por outro. A realidade deste parece-lhes inseparável da realidade positiva, ontológica e substancial do mal, de que ele é tanto o veículo, como o símbolo".Se não é um anti-Deus, quem é Satã ou Lúcifer?Um anjo rebelde, prevaricador e decaído.Um anjo no entanto, criado por Deus junto e entre os outros espíritos celestes e a quem nem mesmo a queda e a condenação puderam retirar a natureza angélica que define o seu ser.Para os teólogos, um outro erro moderno consiste em minimizar (senão negar) a realidade e a importância do mundo invisível das cortes angélicas e infernais que são encontradas em descrições quase idênticas em todas as tradições. Criaturas inumeráveis!...Teólogos mediavais permitiram-se temerárias especulações sobre o recenseamento dos súbditos de Satã, dos diabos e dos demónios. Para eles esses invisíveis são puro espíritos ou têm uma forma copórea, ainda que imperceptível, aos nossos sentidos? O Magister não resolveu esse problema. Permaneceu numa expectativa prudente. Segundo Vacanti: "A espiritualidade absoluta dos anjos não é dogma da fé católica". E o primeiro concílio do Vaticano não teve intenção de definir a natureza dos anjos, mas apenas a sua criação.A iconografia bizantina, ou de influência bizantina, dedica um amplo espaço à iconografia satãnica, principalmente evocando as tentações de Jesus, quando Satã não aparece chavelhado, medonho ou ridículo, mas com os traços de um belo anjo, cujos olhos reflectem uma melancolia infinita. Só se distingue dos anjos bons pelas cores da sua túnica e das suas asas e pelo seu calçado.
Em primeiro lugar, para a teologia, o diabo existe, não é um fantasma. Assim, a tentação tripla de Cristo foi-lhe proposta, não pelo seu subconsciente, mas por um ser vivo, por "alguém".Mas, sempre de acordo com a teologia, seria caír nas malhas do diabo vê-lo como um "anti-Deus" em oposição ao Deus verdadeiro. Não há absolutamente dois inimigos face a face, guerreando sem perdão, mas iguais através dos tempos. Como observa Henri Marrou, professor da Sorbonne: "Nossos contemporâneos tenderiam perigosamente para o dualismo puro e simples: haveria Deus de um lado e Satã por outro. A realidade deste parece-lhes inseparável da realidade positiva, ontológica e substancial do mal, de que ele é tanto o veículo, como o símbolo".Se não é um anti-Deus, quem é Satã ou Lúcifer?Um anjo rebelde, prevaricador e decaído.Um anjo no entanto, criado por Deus junto e entre os outros espíritos celestes e a quem nem mesmo a queda e a condenação puderam retirar a natureza angélica que define o seu ser.Para os teólogos, um outro erro moderno consiste em minimizar (senão negar) a realidade e a importância do mundo invisível das cortes angélicas e infernais que são encontradas em descrições quase idênticas em todas as tradições. Criaturas inumeráveis!...Teólogos mediavais permitiram-se temerárias especulações sobre o recenseamento dos súbditos de Satã, dos diabos e dos demónios. Para eles esses invisíveis são puro espíritos ou têm uma forma copórea, ainda que imperceptível, aos nossos sentidos? O Magister não resolveu esse problema. Permaneceu numa expectativa prudente. Segundo Vacanti: "A espiritualidade absoluta dos anjos não é dogma da fé católica". E o primeiro concílio do Vaticano não teve intenção de definir a natureza dos anjos, mas apenas a sua criação.A iconografia bizantina, ou de influência bizantina, dedica um amplo espaço à iconografia satãnica, principalmente evocando as tentações de Jesus, quando Satã não aparece chavelhado, medonho ou ridículo, mas com os traços de um belo anjo, cujos olhos reflectem uma melancolia infinita. Só se distingue dos anjos bons pelas cores da sua túnica e das suas asas e pelo seu calçado.
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