sexta-feira, setembro 07, 2007

Lobisomem


O SR. ZÉ MANUEL DISSE ADEUS À VIDA DEPOIS DE CONFESSAR AQUILO QUE SABIA


Zé Manuel morava nasa Terras da Costa, junto à Costa da Caparica. Falar de lobisomens é o seu forte, letrado em questões de licantropia, balbucia do alto dos seus oitenta e tal anoe que a maioria dos casos que conhece o licantropo não se transforma em lobo mas em burro - os asininohomens - e outros há que se transformam em bodes e berram e esperneiam sete noites para cumprir o seu fadário."Ser lobisomem é obra do Diabo, como há os vampiros... Quando podem matam para darem almas ao Demo".Mas como é que se tornam lobisomens?"Promessas mal pagas...(encolhe os ombros) sei lá! Mas também há os que não têm culpa. Quando alguém é mordido por um lobisomem e não morre logo fica com a doença". E há muitos?"Agora há poucos... No meu tempo havia mais, ninguém saia por essas azinhagas à noite. Podia dar-se com a besta!Mas Zé Manuel, esquivo, afirma que os asininohomens não fazem mal, "são seres menores, cumprem o fadário e pronto". Já conta ter visto mais de vinte e sabe quem eles são quando estão «disfarçados» durante o dia."Os olhos da besta não se escondem. Têm unhas duras, porque na noite do Diabo são cascos, e têm o corpo peludo. Não confies em homens com as sobrancelhas juntasw, são lobisomens, e fedem da boca porque têm as entranhas podres". Afirma que nas noites de lua cheia se transformam porque é esse o fadário, mas o lobisomem pode ser lobo sempre que quizer. Zé Manuel conta que, quando tinha dezanove anos desconfiou que andava um asininohomem a assombrar a noite pelas Terras Da Costa. "O Burro zurrava como se tivesse a ser espancado". E uma noite resolveu ir com os outros amigos, um deles caçador, dar conta do bicho. Quando o viram deram-lhe umas pauladas e ele deitou a fugir. Então um deles deu um tiro com a espingarda, acertou no bicho, mas não o matou. O animal conseguiu fugir, mesmo com um tiro na garganta.Na manhã seguinte os sinos da igreja tocavam a anunciar a morte de um lavrador desses paragens. A história que correu foi que o homem se tinha ferido mortalmente, por baixo do queixo, quando limpava a sua arma de caça.Zé Manuel queixa-se do descrédito das pessoas: "Chamam-me maluco mas eu sei o que tenho visto e não me importo. Já me chamaram tanta coisa, até lobisomem!..." E é? "Olhe, se fosse não estava para aqui a falar..." Dois dias depois, Zé Manuel despediu-se deste mundo. Ia limpo do seu segredo e nós ficámos mais sábios do seu estranho saber...

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